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domingo, setembro 21, 2014

Referendar

“Sabiá de Setembro tem orvalho na voz. De manhã ele recita o sol.”
Manoel de Barros

        Setembro referenda o Outono.

     Nos frios ainda pequenos, nas nuvens brancas, nos pingos grossos que adivinham chuvadas rápidas e vigorosas, no Sol que baixa e nos reduz os dias. Após um Verão recente, demasiado quente, demasiado seco, sabe bem voltar ao frescor das manhãs e dos fins de tarde.

     No mundo dos bípedes vivos há electricidades do mesmo nome que se repelem, sem nada deverem às leis da física, com ditos e atitudes que demonstram e bem, as respectivas personalidades.
Torga afirma que “a lusitana raça é barroca até no espaço pedagógico” e se analisarmos as polémicas actuais, políticas e nacionais, vemos que há um vazio irremediável feito de arrogâncias. Quem os acredita?
     Tudo, no nosso dia-a-dia, é efémero, incalculável ou promíscuo. Vemos uma correria de políticos, borrados de ambição, indiferentes ao povo, correndo em busca do palanque que antecipadamente reservaram.
    Moderno, agora, é pedir desculpa usando-a como um antinódoas público.
     Projecta-se, inventa-se, imagina-se sem pensar nas consequências, olhando às “poupanças” de um Estado que tem a mão larga para as elites, numa complicada e secreta alquimia.
      Talvez daqui a uns anos, se não prescreverem, as possamos perceber.
    Moderno, agora, é referendar, agitar as massas em nome de uma autonomia fiscal ou política. Referendar, aqui,  só se for em apneia!
    Por mim referendava a dívida da Região (quer a conhecida quer a oculta), referendava as obras inúteis que todos pagamos, o desemprego, a fome e a miséria, a emigração, a atribuição de subsídios e da sua necessidade, a eficácia da saúde e da educação.
     Referendava porque subiram os impostos na Madeira, porque é maior o custo de vida, as passagens aéreas, tendo o termo comparativo na Região Autónoma dos Açores que tem nove ilhas, terá oito ou nove aeroportos, vários hospitais, vários barcos de inter- ligações, mas que tem produção de lacticínios brilhante, de chás, de frutos, de vinhos e licores, de bordados e outras artes e dívida pública reduzida.
    Referendava ainda o horizonte de vida dos jovens, a solidão dos velhinhos, o desânimo dos que teimam em lutar!
    Também faria um referendo sobre a possibilidade de auferir, em simultâneo, mais do que um vencimento acumulativo ou pensão em tempo de vacas magras.

Nota - Não referendava o humor ou a estupidez natural porque são indispensáveis à boa relação humana…


Maria Teresa Góis

 http://www.dnoticias.pt/impressa/diario/opiniao/470426-referendar

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