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terça-feira, fevereiro 16, 2010

Os bárbaros entre nós

Talvez porque tenha memória ou porque, na infância, tenha lido a história do menino e do lobo, não me impressionam as gritarias do género "Censura! Censura!" ou "Fascismo! Fascismo!" que de vez em quando agitam a política e a comunicação social portuguesas.
Também não é o facto de nunca ter sido aqui impedido de escrever o que quer que seja (mais de uma vez tive que ser eu próprio a impedir-me de fazê-lo...), que me leva a não levar à letra o clamor que em certos meios por estes dias se levanta de que não haverá "liberdade de expressão" em Portugal. Soubesse de razão certa (e justa) de uma só voz amordaçada e sentir-me-ia também amordaçado. A liberdade é uma flor frágil e está sempre em risco. Mas é uma daquelas palavras que, segundo Ionesco, devem ser ditas de modo a que não caia em ouvidos de surdos. Há coisas que se dizem no café, entre amigos, ou numa tasca, mas que, por motivos de bom senso e de bom gosto, é intolerável pretender publicar num jornal invocando a liberdade. Talvez os bárbaros estejam às portas da cidade, pois estão sempre. Mas também estão (estão sempre) dentro das muralhas.
Manuel António Pina, JN hoje

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