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terça-feira, novembro 24, 2009

"O Crucifixo e a Nudez"


autor:
Rodrigo Constantino, 28/08/2008

“Mesmo o homem supersticioso tem direitos inalienáveis. Ele tem o direito de defender suas imbecilidades tanto quanto quiser. Mas certamente não tem direito de exigir que elas sejam tratadas como sagradas.” (H. L. Mencken)


As fotos da atriz Carol Castro na revista "Playboy" geraram bastante polêmica. Pelo que ficou evidente, carolas também costumam verificar as fotos da revista de nudez. A Igreja Católica resolveu reclamar, condenando o ato como um "desrespeito com a fé de um povo". Com o mesmo tipo de "argumento", os muçulmanos fanáticos demonstraram toda a sua revolta com o dinamarquês que fez uma charge de Maomé com uma bomba no turbante. Esse autoritarismo religioso é um perigo! Se os crentes desejam tratar suas crenças como sagradas, que o façam. Mas não tentem impor que todos os outros tenham que tratar as mesmas crenças como sagradas também. Coisas como "heresia" e "blasfémia" estão bem ultrapassadas, felizmente.
Até aceito que os crentes se sintam ofendidos, apesar de não entender muito bem porque uma mulher bonita com os seios à mostra seria algo ofensivo. Mas eles não têm o direito de usar essa ofensa subjectiva para atacar a liberdade alheia. Eu, como ateu, posso sentir-me ofendido com alguma propaganda religiosa qualquer, especialmente algumas que adoram demonizar os "pagãos". Mas nem por isso me sinto no direito de usar a força, ou seja, o governo, para impedir a pregação religiosa dessa gente, ainda que digam que eu irei arder para sempre no inferno se não aderir aos seus dogmas. Eles são livres para pregar, e eu para ignorá-los. Assim como a Carol Castro é livre para posar nua com um crucifixo, eu sou livre para ver as fotos, e os carolas são livres para rezarem desesperados por nossas almas, enquanto se culpam por todos os desejos naturais reprimidos pela fé. Alguns podem até agredir seus próprios corpos, usando o cilício ou ajoelhando no milho, caso a imagem “terrível” da actriz nua com um crucifixo tenha, por ventura, despertado emoções “macabras” e “pecaminosas”. Eles são livres para tanto. Mas deixem os “pecadores” em paz!
Na verdade, esses crentes, se realmente estão preocupados com a associação do símbolo de sua fé com algo negativo, deveriam mesmo focar suas energias para condenar o uso político da religião, com tantos oportunistas usando a fé para ganhar votos e poder. Deveriam ainda repudiar de forma mais enfática tanto terror causado no passado em nome de sua religião. Lá estava a Inquisição matando e torturando, e usando justamente a cruz como símbolo. Isso sim deveria incomodar um crente católico. Ou então os papas corruptos da Renascença, os poderosos que roubavam e pilhavam em nome da cruz. Quantas “bruxas” morreram em nome deste símbolo, que por sinal vem de crucificare, que quer dizer justamente “torturar” em latim? Fico pensando o que esses carolas fariam se tivessem mais poder em mãos, como a Igreja Católica já teve no passado. Felizmente, para a Carol Castro e para todos aqueles que não se importam com suas fotos, os tempos são outros, e a Idade Média está distante de nós. Os saudosistas precisam se acostumar com isso e aprender a viver nesse mundo laico.
Os crentes podem ficar ofendidos, mas a liberdade deve ser preservada. Considero um absurdo e perigoso sinal de autoritarismo retrógrado a Justiça obrigar a editora a retirar as revistas das bancas. Basta que os crentes não comprem a revista, se conseguirem resistir à tentação do Capeta. E quanto aos demais, nós pecadores, basta deixar que assumamos nossos próprios riscos de queimar eternamente no inferno. Como disse Martin Terman, "as pessoas que me dizem que eu vou para o inferno e que elas vão para o céu de certa forma me deixam feliz por não estarmos indo para o mesmo lugar”.

NOTA DA REDACÇÃO - LI ESTE TEXTO NA NET E GOSTEI.   SOU PELO RESPEITO À LIBERDADE DOS OUTROS MESMO SE EXIGINDO QUE RESPEITEM A MINHA.   CREIO QUE HOJE ESSE RESPEITO E TOLERÂNCIA DEVERIAM SER MENOS TEÓRICOS E MAIS PRÁTICOS.
O texto é brasileiro mas, propositadamente, não o corrigi, por ser contra o acordo ortográfico.

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