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quarta-feira, agosto 26, 2009

o "Big Brother" está mesmo a segui-lo...

Tem um cartão de fidelidade do supermercado onde costuma fazer compras? Esse bocadinho de plástico que lhe pode valer descontos conta mais sobre a sua vida do que você gostaria.

O cartão está em seu nome e tem agregada a sua morada e provavelmente outros dados pessoais. Mas não é tudo: numa base de dados algures (a incerteza deste algures é relevante) estão listadas todas as compras que você fez sempre que apresentou esse cartão. Ou seja, conta até coisas que você considera privadas.

Se tem a mania da comida saudável, se enche a despensa de comida de plástico ou legumes e produtos dietéticos, se bebe álcool e que tipo de álcool (se é mais amigo das cervejinhas ou do uísque), se usa preservativos ou lubrificantes íntimos, se tem bebés ou crianças a seu cargo, se há lá em casa problemas de incontinência urinária, até mesmo se começou a praticar desporto, se vai de férias ou se fez mudanças em casa. Tudo isso pode ser inferido do seu historial de consumo apenas no supermercado. Os cartões de fidelidade existem também para lhe "tirar a fotografia" e conhecê-lo melhor. Às vezes, bem de mais.

Se está com ideias de deitar fora esse cartãozinho que lhe dava tanto jeito, pense duas vezes. Provavelmente teria que abdicar de inúmeros cartões que traz na carteira: o das Farmácias de Portugal (o seu nome e dados pessoais, mais toda a medicação que compra), os cartões bancários, do seguro de saúde, da bomba de gasolina, do clube de vídeo... Mais os cartões de muitos organismos públicos.

A protecção de dados cruza-se com a privacidade: o direito básico a termos o nosso espaço, livre de intrusão ou da necessidade de dar explicações e a decidirmos que aspectos da nossa vida ficam nesse recato e quais são públicos.

É um direito reconhecido na Declaração dos Direitos do Homem e na Constituição. Não é coisa pouca: é um pilar da dignidade humana e uma condição de liberdade. Apesar disso, é um espaço que está a estreitar-se. Uma das razões é que nos esquecemos de o proteger.

Já lhe aconteceu olhar para os seus movimentos de conta ou para a factura detalhada do telemóvel e sentir a estranheza de estar ali o relato do que foi a sua vida naqueles dias? E se forem outros a ver esse relato?

Texto publicado na edição do Expresso de 22 de Agosto de 2009

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