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domingo, junho 14, 2009

Não parece mas é um peixe

Tem um nadar desajeitado, uma crina e cauda longa e é o macho que 'engravida'. Já adivinhou? É um cavalo-marinho, uma espécie frágil que os biólogos tentam preservar a todo o custo no estuário do Sado, replantando de ervas marinhas as pradarias da Arrábida
O cavalo-marinho é um animal muito estranho. Porque é peixe e tem dificuldade em nadar; porque são os machos que carregam os filhos na barriga ao longo de dois meses de gestação; e porque tem cabeça de cavalo, com crina e uma longa cauda.
O facto de ser tão esquisito saiu-lhe caro. Apesar de não ter interesse para o consumo do homem, foi durante anos capturado nas pradarias marinhas da Arrábida, apenas para ser seco ao sol e vendido aos turistas como amuleto. A modalidade foi proibida há vários anos, mas é hoje uma espécie ameaçada. "Era apanhado com captura directa, ou em mergulho, com recurso a redes, tipo camaroeiros. Mas também havia quem fizesse por arrasto à mão", explica Miguel Henriques, responsável pela gestão do Parque Marinho Luiz Saldanha.
No Livro Vermelho dos vertebrados lá surge o cavalo-marinho, o tal peixe que nada de pé, como alvo de ameaça, com estatuto de "indeterminado". Significa que se desconhece se é raro, vulnerável ou mesmo se está em perigo de extinção, embora sejam conhecidas, em Portugal, uma dezena de espécies.
O biólogo alerta para a fragilidade da o cavalo-marinho: não tem dentes, esconde-se muito mal e até tem dificuldade em nadar, justamente por divergir de forma tão significativa do padrão normal de um peixe. Quando pensa em se deslocar, desenrola a cauda, dobra o corpo e bate as pequenas barbatanas.
A favor da espécie joga hoje o facto de o estuário do Sado já ser pouco procurado por alguns dos seus históricos predadores, como a garoupa, o cherne ou atum, que há alguns anos visitavam com regularidade a orla percorrendo as pradarias marinhas à procura de alimento.
"As barbatanas são muito pequenas e servem apenas para orientar a sua posição. Não teria condições para nadar em mar aberto, com correntes", explica o biólogo, justificando assim a preferência do cavalo-marinho para se fixar em habitats muito específicos, onde predominam as ervas marinhas - que não são algas - que se adaptaram à vida dentro de águas costeiras, bastante abrigadas, com pouca agitação e bastante luz, como sucede no estuário do Sado.
Miguel Henriques admite que o comportamento demonstrado por esta espécie no meio natural poderá viabilizar a criação do cavalo-marinho em cativeiro caso o perigo de extinção "bata à porta". É que, também em matéria de reprodução, este exemplar diverge dos outros peixes.
Porquê? A sardinha, o carapau ou o besugo lançam quantidades exorbitantes de células sexuais, sendo que a fecundação se dá na água. O cavalo-marinho não. Esta espécie tem um desenvolvimento directo, sendo que do ovo nasce logo uma cria, com a particularidade ser o macho a "engravidar", após a fêmea lhe passar os ovos para uma bolsa, traduzida numa prega do corpo. O casal faz uma espécie de dança roçando as barrigas. Quando os juvenis são libertados pelo pai ficam logo nas pradarias de ervas marinhas.
"Por isso, criar uma sardinha em aquário seria impossível, mas a criação do cavalo-marinho teria viabilidade se houvesse essa necessidade, apesar das dificuldades que poderia representar garantir a sua alimentação", explica Miguel Henriques.
DN

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